No último sábado (22/10), ocorreu a 5ª edição da ultramaratona de 100 km do Frio. No ano passado, tive a oportunidade correr pela primeira vez essa belíssima e desafiante prova.
A organização da prova premia com um troféu extra todos que fazem solo pelas duas primeiras vezes consecutivas. A premiação se chama “Back to back”, da mesma forma como acontece na Comrades. Essa era a minha maior motivação para realizar pela segunda vez consecutiva a prova. Se eu a concluísse novamente, ganharia o troféu. 🙂
Cá pra nós, a organização da prova merece um belo troféu. Muito bem organizada, planejada e executada. Esta é uma utramaratona que proporciona uma experiência incrível para que decide corrê-la.
Durante os últimos meses, vim me preparando para realizar uma prova “massa”. Estava bastante confiante, pois tinha feito o longão de 55 km e 60 km muito bem. Estava com boas perspectivas. Porém, no começo de outubro, faltando duas semanas e meia para a data da prova comecei a sentir uma dor no solado do pé esquerdo. Achei que fosse besteira. Subestimei.
O diagnóstico foi fascite plantar. Talvez essa seja a lesão mais complicada para um corredor tratar. Durante dias, mal conseguia andar sem mancar. Parei de correr durante 8 dias, mas continuei nadando, pedalando, intensifiquei o tratamento e a melhora foi boa. É claro que pensei em desistir. Mas eu não desistiria sem tentar. Estava me preparando psicologicamente para desistir durante a prova caso a dor aparecesse.
O que me deixava preocupado era principalmente a queda do condicionamento físico. Estava muito confiante na realização de uma excelente prova e, de uma hora para outra, iria lutar para “apenas” concluir a ultramaratona. :/
Na sexta (21/10), em vez de estar na estrada a caminho de Garanhuns para deixar a família no local da chegada da prova, eu estava no hospital com minha filha. Apenas às 17h, quase 4 horas após a nossa chegada na emergência, fomos liberados. As coisas pareciam conspirar contra. Ou seria para eu desistir ou arrumar forças para concluir a prova.
Cheguei em Caruaru às 22h40. Fui dormir quase meia-noite e às 2h10 eu já estava me arrumando para o café da manhã do hotel. Sim, eu não tinha almoçado nem jantado. Enquanto estava no hospital com minha filha comi apenas uma tapioca e tomei um cafezinho. O café da manhã no hotel começou às 3h e às 3h30 seguimos para o local da largada.
Meu café da manhã foi simples. Comi ovos mexidos com carne de sol acebolada e uma xícara de café puro (sem adoçar). Com a low carb, tenho percebido e vivenciado que não faz muito sentido encher o “bucho” pra correr. Mas isso é outra história. 🙂
Para a alimentação aos longo dos 100 km levei azeitonas, chocolate 85%, trufas 70%, bananas, castanhas de caju, óleo de coco, mel e bastante água. Mas não consumi metade disso. Por exemplo, não consumi nenhum mel e a barra de chocolate 85% voltou lacrada pra casa.
Às 4h foi dada a largada. Eu estava angustiado e preocupado. Não estava concentrado na prova, mas no pé. Logo passaram 5, 10 15 km e o pé não doía. Pouco antes das 5h15 o dia já estava claro e a paisagem ajudou a distrair um pouco.
No quilômetro 23, nós saímos da BR-232 e entramos na BR-423. É a partir daí que a brincadeira começa. É praticamente um “retão” até Garanhuns com dezenas de subidas e descidas. Antes de chegar em Ganranhuns, passamos por São Caetano, Cachoeirinha, Lajedo e Jupi.
Uma das piores partes da prova, na minha opinião, é o começo da BR-423. Como corremos pelo acostamento, o piso não é tão liso. É um tipo de piche com pedrinhas pontiagudas e o acostamento tem uma inclinação mais acentuada. É chato, mas não exige sacrifício.
Até o km 40, eu consumi apenas água. Foi aí que comi uma trufinha 70%. Mas, mesmo me sentindo muito bem, eu ainda continuava focado no pé e não na prova.
Próximo ao km 55, encontrei Paulinho, um colega da Acorja. Seguimos juntos até o final. Foi nesse ponto que, ao meu ver, o calor e o sol começaram a incomodar mais. Apesar do céu com bastante nuvens, o calor era forte e não tinha vento.
Quando passei da metade da prova bem fisicamente e o pé não doía, comecei a ter mais confiança na conclusão do percurso. Terminaria de qualquer forma. Mesmo que precisasse caminhar 45 km.
No km 60, comi uma banana. E a partir daqui, a cada 4 km (mais ou menos) eu consumia um pouco de azeitona e em intervalos aleatórios comia uma trufinha 70% ou castanhas.
Logo chegou o km 75, 80, 90 e a certeza que o Back to Back estava garantido. Muitas ladeiras, calor intenso mas nada do pé incomodar. Nenhum sinal de cãibra. A musculatura incomodava sim, principalmente a coxa direita. Porém, no geral, ainda estava fisicamente muito melhor que no ano passado.
Os últimos quilômetros pareciam intermináveis. A ansiedade de cruzar a linha de chegada e encontrar com a família era enorme. Sim, eu tentava conter a emoção desde o primeiro km. Um filme passava na cabeça toda hora. Aqueles meses de treino intenso, noites pouco dormidas, semanas cansativas, lesão no pé, medo de não concluir, a incerteza da conquista do Back to Back e as dezenas de pessoas que torciam por mim, que mandaram mensagens de incentivo e minha família que estava lá na chegada me esperando. Tanta coisa passava na cabeça.
A última subida do percurso estava entre o km 97 e 98. Que ladeira. Interminável. E com aquele sol…
Quando cheguei na reta final encontrei Cynthia e Júlia. Juju, que na véspera estava no hospital fazendo exames, colocou a medalha em meu pescoço mesmo antes de cruzarmos a linha de chegada. Corremos os últimos metros Juntos, na verdade corremos toda a prova juntos. Elas estavam comigo todo o tempo. Eram a força que eu precisava, a motivação que me não me fez desistir.
Juntos, cruzamos a linha de chegada.
<3
Meu Garmin:
Altimetria:
Veja o resultado da prova: